Carta da Sociedade Civil Brasileira ao Governo dos Estados Unidos da América

Brasil, 6 de abril de 2021


Em 20 de janeiro, em seu discurso de posse, o presidente Joe Biden elencou como principais
desafios de seu governo a luta contra a pandemia, o combate ao racismo estrutural, a
mudança climática e o papel dos Estados Unidos no mundo. O país, afirmou Biden, deveria
liderar não pelo exemplo da sua força, mas pela força do seu exemplo.


Tal discurso está sob teste agora, enquanto a administração Biden trava conversas com o
governo de Jair Bolsonaro, do Brasil, sobre a agenda ambiental. As negociações ocorrem longe
dos olhos da sociedade civil, que o presidente brasileiro já comparou a um “câncer”. O governo
brasileiro comemora tais negociações, que envolveriam recursos financeiros. O presidente
americano precisa escolher entre cumprir seu discurso de posse e dar recursos e prestígio
político a Bolsonaro. Impossível ter ambos.


O líder extremista do Brasil justificou o putsch de 6 de janeiro nos EUA repetindo as mentiras
de Donald Trump sobre fraude na eleição. Dentro de casa, ele ataca os direitos humanos e a
democracia. Cooperar com tal governante seria um ato inexplicável. Bolsonaro está
promovendo a destruição da floresta amazônica e outros biomas, aumentando as emissões do
Brasil. Compromete o Acordo de Paris ao retroceder na ambição da meta climática brasileira.
Negacionista da pandemia, transformou seu país num berçário de variantes do coronavírus,
condenando à morte parte da própria população.


Sua política antiambiental desmontou órgãos de fiscalização, promoveu o enfraquecimento da
legislação e incentiva invasões de territórios indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais
e áreas protegidas. A presença de invasores leva ao aumento da violência e de doenças como a
Covid junto aos habitantes da floresta. Recentemente, Bolsonaro foi denunciado por indígenas
ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.


Não é razoável esperar que as soluções para a Amazônia e seus povos venham de negociações
feitas a portas fechadas com seu pior inimigo. Qualquer projeto para ajudar o Brasil deve ser
construído a partir do diálogo com a sociedade civil, os governos subnacionais, a academia e,
sobretudo, com as populações locais que até hoje souberam proteger a floresta e todos os
bens que ela abriga. Nenhuma tratativa deve ser considerada antes da redução do
desmatamento aos níveis exigidos pela legislação brasileira de clima e o fim da agenda de
retrocessos encaminhada pelo governo ao Congresso Nacional. Negociar com Bolsonaro não é
o mesmo que ajudar o Brasil a solucionar seus problemas atuais.

Negociações e acordos que não respeitem tais pré-requisitos representam um endosso à
tragédia humanitária e ao retrocesso ambiental e civilizatório imposto por Bolsonaro. A eleição
de Joe Biden representou a vontade dos Estados Unidos de estar do lado certo da história.
Fazer a coisa certa pelos brasileiros seria uma grande demonstração disso.

Assinam esta carta:

  1. Agentes de Pastoral Negros do Brasil – APNs2. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
  2. Associação Brasileira de Imprensa – ABI
  3. Associação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib
  4. Associação Nacional de Pós-graduandos – ANPG
  5. Central Única dos Trabalhadores – CUT
  6. Coalizão Negra por Direitos
  7. Conselho Nacional de Seringueiros – CNS
  8. Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Quilombolas –
    CONAq
  9. Fórum da Amazônia Oriental – Faor
  10. Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros – Fonatrans
  11. Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
  12. Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
  13. Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem-Teto – MTST Brasil
  14. Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
  15. Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
  16. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
  17. Movimento Negro Unificado – MNU
  18. Observatório do Clima
  19. RCA – Rede de Cooperação Amazônica
  20. Rede GTA
  21. Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas
  22. Uneafro Brasil
    ENTIDADES DA SOCIEDADE CIVIL
  23. 342Amazonia
  24. 342Artes
  25. 350.org Brasil
  26. Abpes – Associação Brasileira de Pesquisadores de Economia Solidária
  27. Ação Educativa
  28. Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade – Afes
  29. Afro-Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica – Aganju
  30. Articulação Negra de Pernambuco – Anepe
  31. ASSIBGE-RR
  32. Associação Alternativa Terrazul
  33. Associação Brasileira de Imprensa
  34. Associação Brasileira de Reforma Agrária
  35. Associação Cultural.Educacional Assistencial Afro Brasileira Ogban
  36. Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade – MG
  37. Associação de Defesa dos Direitos Humanos e Meio Ambiente na Amazônia
  38. Associação de Jovens Engajamundo
  39. Associação de Mulheres Mãe Venina do Quilombo Curiau
  40. Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – Apremavi
  41. Associação dos Moradores e Amigos da Praia Grande (Penha-SC)43. Associação Evangélica Piauíense – AEPI
  42. Associação Interdenominacional de Pastores – Assip
  43. Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro – Anga
  44. Associação Paulista de Cineastas – Apaci
  45. Atelier Tuim
  46. Avaaz
  47. Baía Viva
  48. BVRio
  49. Carta da Terra Brasil
  50. Casa 8 de Março – Organização Feminista do Tocantins
  51. Casa das Pretas – RJ
  52. Católicas pelo Direito de Decidir
  53. Centro de Convivência É de Lei
  54. Centro de Cultura Negra do Maranhão
  55. Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – Cedenpa
  56. Centro de Formação da Negra e do Negro da Transamazônica e Xingu – CFNTX
  57. Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Pe. Josimo
  58. Centro de Trabalho Indigenista – CTI
  59. Centro Franciscano de Defesa de Direitos (Belo Horizonte-MG)
  60. CESE Coordenadoria Ecumênica de Serviço
  61. Coletiva DIVERSAS
  62. Coletivo Amazônico LesBiTrans
  63. Coletivo Cara Preta
  64. Coletivo de Mulheres Negras Maria-Maria – Comunema
  65. Coletivo Feminista Classista Maria vai com as Outras – Baixada Santista
  66. Coletivo Filhas do Vento
  67. Coletivo Leste Negra
  68. Coletivo Negro Universitário da UFMT
  69. Coletivo Raízes do Baobá Negras e Negros (Jaú-SP)
  70. Coletivo 660
  71. Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz
  72. Comissão Justiça e Paz da Diocese de Macapá
  73. Comissão Pastoral da Terra – CPT-MG
  74. Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do Piauí
  75. Comitê REPAM Xingu
  76. Comunidade de Roda de Samba Pagode Na Disciplina
  77. Conectas Direitos Humanos
  78. Consciência em Movimento – Cooperativa de Saberes
  79. Conselho Nacional do Laicato do Brasil – Regional Sul 2
  80. CSP-Conlutas (Roraima)
  81. Cursinho Popular Risoflora
  82. Defensores do Planeta
  83. Elo Mulheres da Rede Sustentabilidade Amapá
  84. Eugênia Magna Broseguini Keys 87. Fase – Solidariedade e Educação
  85. FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
  86. Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense – FMAP
  87. Fórum Marielles
  88. Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno – FMNDFE
  89. Frente Estadual pelo Desencarceramento de Minas Gerais
  90. Frente Estadual pelo Desencarceramento do Amazonas
  91. Frente Favela Brasil
  92. Frente Nacional de Mulheres do Funk
  93. Fundação Avina
  94. Fundação SOS Mata Atlântica
  95. Fundação Tide Setubal
  96. Gambá
  97. GEEMA – Grupo de Estudos em Educação e Meio Ambiente
  98. Geledés – Instituto da Mulher Negra
  99. Gestos
  100. Greenpeace Brasil
  101. Grupo de Defesa Ecológica Pequena Semente
  102. Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Gênero Feminismos e
    Interseccionalidade
  103. Grupo de Estudos AFETO
  104. GT Infraestrutura
  105. Ile Igbas Axé Oyá Guere Azan
  106. Iniciativa Sankofa
  107. Instituto 5 Elementos – Educação para a Sustentabilidade
  108. Instituto Afro Cultural da Amazônia – MONA
  109. Instituto Afrolatinas
  110. Instituto Água e Saneamento – IAS
  111. Instituto Aldeias
  112. Instituto Aromeiazero
  113. Instituto Augusto Carneiro
  114. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase
  115. Instituto Búzios
  116. Instituto Centro de Vida – ICV
  117. Instituto ClimaInfo
  118. Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – Idesam
  119. Instituto de Energia e Meio Ambiente – Iema
  120. Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc
  121. Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora
  122. Instituto de Mulheres Negras do Amapá – Imena
  123. Instituto de Pesquisa e Formação Indígena – Iepé
  124. Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros – Ipeafro
  125. Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ
  126. Instituto de Referência Negra Peregum130. Instituto Democracia e Sustentabilidade – IDS
  127. Instituto Ecológica
  128. Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental
  129. Instituto Humanista para Cooperação e Desenvolvimento – Hivos
  130. Instituto Internacional de Educação do Brasil – IIEB
  131. Instituto Mancala
  132. Instituto Mulheres da Amazônia
  133. Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável – Insea
  134. Instituto Nossa Ilhéus
  135. Instituto Pensamentos e Ações para Defesa da Democracia
  136. Instituto Pesquisa Ambiental da Amazônia – Ipam
  137. Instituto Pólis
  138. Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN
  139. Instituto Socioambiental – ISA
  140. Instituto Soma Brasil
  141. Instituto SOS Pantanal
  142. Instituto Talanoa
  143. Instituto Update
  144. International Rivers Brasil
  145. Justiça e Paz Integridade da Criação – Verbo Divino
  146. Mandata Coletiva Quilombo Periférico de Elaine Mineiro – SP
  147. Mandata Quilombo – Erica Malunguinho
  148. Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
  149. Marcha das Mulheres Negras de São Paulo – MMNSP
  150. Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
  151. Movimento Afrodescendente do Pará – Mocambo
  152. Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia – Mama
  153. Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade do Estado
  154. Movimento Negro Unificado – MNU (Acre)
  155. Movimento Nossa BH
  156. Movimento Xingu Vivo Para Sempre
  157. Núcleo de Educação Popular Raimundo Teis – NEP
  158. Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas
  159. Núcleo Estadual de Mulheres Negras do Espírito Santo
  160. Observatório de Justiça e Conservação
  161. ONG GHATA – Grupo das Homossexuais Thildes do Amapá
  162. PAD – Processo de Articulação e Diálogo Internacional
  163. Pastorais Sociais da Arquidiocese de Santarém
  164. Ponto de Cultura Brasil dos Buritis
  165. Pretaria.Org – Coletivo Pretaria
  166. Projeto Hospitais Saudáveis
  167. Projeto Meninos e Meninas de Rua
  168. Projeto Saúde e Alegria
  169. Recanto Sagrado Ubiratan174. Rede Brasileira de Conselhos -RBdC
  170. Rede das Mulheres de Terreiro de Pernambuco
  171. Rede de Cooperação Negra e LGBTQI Pretas e Coloridas
  172. Rede de Educação Ambiental de Rondônia – Rearo
  173. Rede de Educadores Ambientais da Baixada de Jacarepaguá
  174. Rede de Organizações Não Governamentais da Mata Atlântica – RMA
  175. Rede Educafro Minas
  176. Rede Fulanas Negras da Amazônia Brasileira
  177. Rede Igrejas e Mineração
  178. Rede Internacional de Pesquisa em Barragens Amazônicas
  179. Rede Nacional da Promoção e Controle Social da Saúde, Cultura e Direitos de
    Lésbicas e Bissexuais Negras – Rede Sapatà
  180. Rede Pro UC
  181. Rede Ubuntu de Educação Popular
  182. Rede Um Grito Pela Vida-CRB
  183. Renafro Saúde
  184. RPPN Águas Claras I e II
  185. Serviço Franciscano de Justiça, Paz e Integridade da Criação – Província Santa
    Cruz
  186. Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia – Sinfrajupe,
  187. Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS
  188. SOS Amazônia
  189. SOS Mata Atlântica
  190. Tindari
  191. Uiala Mukaji – Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco
  192. Unidos pelos Direitos Humanos Brasil
  193. Unitransd (SC)
  194. Vivat International Brasil