Na tarde histórica de 30 de junho, representantes da Coalizão Negra Por Direitos, partidos políticos, movimentos sociais e da sociedade apresentaram na Câmara dos Deputados o “Superpedido de Impeachment” contra o Presidente Jair Bolsonaro. O documento reúne argumentos dos outros 123 pedidos apresentados anteriormente com 46 signatários.
Para Ingrid Farias, ativista negra antiproibicionista pelos direitos humanos e integrante da Coalizão Negra Por Direitos, o momento tem um simbolismo histórico para o movimento negro, “vivemos um dia histórico que reforça a necessidade de construir um projeto amplo para defesa do Brasil. Nosso papel enquanto mulheres do movimento negro é gigante, representando um projeto de ruptura para esse país, que refunda os marcos democráticos, combatendo de forma estruturante o racismo e o machismo. A presença da estética negra nesse momento é fundamental para fazer uma democracia forte e representar os interesses de mais da metade da população brasileira, e garantindo um estado de direito que beneficia a todas e a todos os brasileiros”.
Em agosto de 2020, integrantes da Coalizão Negra por Direitos e aliados apresentaram ao presidente da Câmara dos Deputados um pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro pelos crimes de responsabilidade por ele cometidos durante o exercício do seu mandato, sobretudo, os crimes de responsabilidade que colocaram em risco a vida de milhares de brasileiros, especialmente, pessoas negras e em situação de vulnerabilidade. O pedido de impeachment teve assinatura das 200 organizações que compõem a Coalizão e o apoio de mais de 600 entidades de todo o país, além da adesão de artistas, intelectuais, ativistas e profissionais de diversos setores da sociedade brasileira.
O pedido foi protocolado quando o Brasil atingiu 100 mil vidas perdidas em decorrência da negligência criminosa presidencial no combate à pandemia no Brasil. Em janeiro de 2021, quando esse número ultrapassou 250 mil, a Coalizão Negra realizou um aditamento ao pedido de impeachment formulado, incluindo, dentre os crimes de responsabilidade, a ação do presidente para que não houvesse no país um efetivo plano nacional de vacinação contra a COVID-19.
Veja a fala de Douglas Belchior:
Durante o ato simbólico, Douglas Belchior, professor de história, integrante da Coalizão Negra Por Direitos e da Uneafro Brasil, falou na coletiva de imprensa após o protocolo do Superpedido. “Estado Brasileiro que tem uma natureza genocida que sempre empreendeu suas forças para assassinar os povos originários e o povo africano e seus descendentes, que construíram esse país, e é o encontro desse Estado com essa natureza com um governo completamente fascista, racista e genocida que está destruindo o nosso país, ele é responsável por mais de 500 mil pessoas assassinadas pela política de negligência à saúde”.
O novo pedido ganhou força após as mais de 500 mil mortes, negligenciadas pelo governo federal e de denúncias feitas durante a CPI da COVID-19 e da afirmação do representante da empresa Davati Medical Supply à Folha de São Paulo que colocam o presidente e seu governo no centro de um escândalo de corrupção. Finalizando, Belchior, em seu discurso, apontou a ausência de ações direcionadas para o combate da pandemia entre a população negra e indígena. “Bolsonaro emprega uma gestão supremacista branca em um país de maioria negra, em um país de povos originários indígenas. Essa postura que o governo tem de deixar morrer, deixar contaminar, se fosse em um país de maioria branca, seria diferente. Da mesma maneira que a gente vê permitida pela sociedade brasileira que a polícia explore territórios negros, como aconteceu no Jacarezinho, é a mesma lógica para a política colocada em prática pelo governo Bolsonaro. Não vamos aceitar, Fora, Bolsonaro!”.
Para Ieda Leal, Coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) a ação representou a potência dos movimentos negros na luta pela vida. “Ontem a gente fez um movimento para mostrar a vontade de cada um para acessar esse local de poder, nesse sentido, foi de grande importância entregarmos nas mãos de Lira o Superpedido para que seja feito o afastamento de um genocida do poder. Nós, mulheres e homens negros representamos naquele local a maioria da populaçãp brasileira para denunciar a incopetência de alguém que não sabe lidar com a garantia das vidas e nem com uma nação diversa. Em nome de Zumbi e de Dandara, continuamos em luta” finalizou.
A Coalizão Negra Por Direitos e diversas organizações de movimentos sociais convocam a sociedade para voltar às ruas no próximo sábado, dia 3 de julho, para exigir, mais uma vez, a saída do presidente Jair Messias Bolsonaro.
Leia o Superpedido de Impeachment na íntegra aqui
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