A comitiva do Movimento Negro composta por CONAQ, Coalizão Negra Por Direitos, Alma Preta, PerifaConnection e Uneafro Brasil segue denunciando o racismo ambiental e as violações contra quilombolas nos primeiros dias da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, Escócia.
No dia 01 de novembro, abertura do primeiro dia do evento, 120 chefes de Estado se reuniram para tratar das mudanças climáticas. As agendas da comitiva negra têm se pautado em conversas com parlamentares europeus, sistematizando a ausência de iniciativas no Brasil do reconhecimento da importância dos povos originários e quilombolas na manutenção de áreas verdes em todo o território nacional.
O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres reforçou a importância de ações imediatas para o combate à degradação ambiental: “chega de tratar a natureza como uma privada. Estamos cavando nossas sepulturas”. O governo brasileiro anunciou sua nova meta do clima durante pronunciamento do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, no estande brasileiro, em Glasgow, onde ocorre a 26ª Conferência das Mudanças Climáticas da ONU.
A meta apresentada pelo Brasil passa de 43% a 50% de redução dos gases de efeito estufa até 2030, considerando os níveis de 2005. O país ainda promete a neutralidade de carbono até 2050. Em nota emitida pela Uneafro Brasil, “mesmo se o governo utilizar as bases de cálculo mais recentes, a meta apresentada nada mais é do que a mesma de 2015, do governo Dilma”, reforça a organização.
Outro destaque que gerou polêmica nos primeiros dias do encontro foi o comentário do ex-ministro da Fazenda e atual diretor do Banco Safra, Joaquim Levy, onde diz que “o ciclo do baixo carbono pode ser tão bom quanto ciclos do ouro e do café”, para uma entrevista do Estadão Conteúdo. Douglas Belchior e Kátia Penha, da CONAQ, reforçaram que a problemática frase é uma consequência da exclusão das questões dos povos originários e quilombolas do debate do clima. “Reconhecemos que não há justiça climática sem justiça racial. Sem a inclusão do debate dos povos tradicionais, das comunidades quilombolas e do debate racial, seguimos para um modelo de neocolonialismo, modelo que prioriza a exploração do planeta e dos corpos”, finalizam.
O segundo dia de participação da agenda negra se pautou por um encontro com o vereador e representante do Black Lives Matter da Escócia, Graham Campbell, onde foram pautados o debate racial e a manutenção de territórios quilombolas. No mesmo dia, a ex-ministra do Meio Ambiente do Governo Dilma Rousseff, Izabella Teixeira, segurou uma das bandeiras da Coalizão Negra Por Direitos durante um ato contra o populismo climático. Para Diosmar Filho, coordenador da Amazônia Legal Urbana, os debates feitos na COP26 não devem ser pautados pelo crescimento econômico, mas sim pela preservação do planeta e das vidas. É por mais esse motivo que estamos no debate climático. Ele também apontou a problemática do posicionamento do governo brasileiro. “Para combater esse tipo de fala vinda daqueles que sempre tiveram o privilégio de participar do debate climático. Os povos que detêm as áreas verdes têm a resistência como premissa”.
Nesta quarta-feira, 03 de novembro, a Coalizão Negra Por Direitos se reuniu também com o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Jaques Wagner, e com o membro da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Federal, Nilto Tatto. O encontro aconteceu no Brazil Climate Action Hub, na COP26. Esse diálogo teve como objetivo discutir as ambições brasileiras, o combate às desigualdades raciais e de gênero na agenda climática e o enfrentamento ao racismo ambiental, titulação dos territórios quilombolas e terras indígenas, bem como a adaptação em cidades com regularização fundiária de terras urbanas para população negra e demais temas da luta da sociedade pela descarbonização do planeta.
Na próxima sexta-feira, dia 05, das 14h às 15h15 (horário local), o movimento realiza o evento “Terra, territórios e o enfrentamento ao racismo nas lutas contra a crise climática: o Movimento Negro Brasileiro na COP 26”. Trata-se de um espaço de debate sobre o papel do Movimento Negro no debate climático e a importância dos territórios quilombolas, do campo e da cidade para um caminho com futuro melhor.