Ato em memória dos jovens negros mortos na Gamboa de Baixo, Bahia, clama por justiça e pela responsabilização do estado

Uma semana após a ação policial violenta que tirou a vida de Patrick Souza Sapucaia, 16 anos; Alexandre Santos dos Reis, 20 anos; e Cleverson Guimarães, 22 anos, jovens negros moradores da Gamboa de Baixo, em Salvador, Bahia, familiares das vítimas, a comunidade local e organizações do movimento negro realizaram o ato em memória e por justiça para esse crime brutal.

A mobilização foi realizada em frente à sede da Associação de Moradores de Gegê da Gamboa de Baixo, com apoio da Coalizão Negra Por Direitos, Ideas Assessoria Popular, Articulação Centro Antigo e Kessimbi Amazi Unzó, dia 7 de março.

“A Chacina da Gamboa de Baixo foi marcada por um silêncio sepulcral dos governantes baianos.  A mobilização e denúncia dos familiares, comunidade e do movimento negro seguem firmes na tentativa de transformar o silêncio em respostas constitucionais basilares: apuração do caso,  direito à memória e à justiça aos vitimados e à família”, aponta Wagner Moreira, coordenador do Ideas que faz parte da Coalizão Negra Por Direitos e acompanha de perto o caso.

Na madrugada do dia 1 de março, no feriado de Carnaval, Patrick, Alexandre e Cleverson estavam na região quando foram baleados por agentes da Rondesp (Rondas Especiais) após uma ação na região da Gamboa.

A versão da polícia militar diz que, após uma denúncia de que homens armados estavam no local, foram até o bairro e, em uma troca de tiros, executaram os jovens que possuíam armas e drogas. Mas familiares afirmam que os policiais já chegaram atirando e levaram os corpos das vítimas para uma casa abandonada para forjar a cena do crime. 

Wagner denuncia que, desde o dia da morte dos jovens, quem mora na Gamboa de Baixo sofre com a intimidação da PM. “É preciso respeitar a comunidade e interromper o constrangimento e a coação velada daquela população com a presença de uma base móvel estacionada no bairro desde o ocorrido”.

O caso confirma ainda mais o dado de que a PM da Bahia é a mais letal do nordeste e 100% das execuções feitas por agentes do estado atingem pessoas negras. As informações são da pesquisa “Pele Alvo: a cor da violência policial”, da Rede de Observatórios de Segurança.

Segundo o estudo, em 2020, houve um aumento de 21,08% de mortes por ações policiais, em comparação com 2019 – quando foram registrados 650 casos de mortos pela polícia. Só no último ano, 787 pessoas foram mortas pela PM no estado.

A responsabilidade dos órgãos oficiais frente à Chacina da Gamboa de Baixo e sobre os inúmeros casos de violência policial que atingem a Bahia é exigida pelo movimento negro. “A impunidade frente à letalidade baiana tem larga colaboração de órgão do Poder Público, a exemplo do Ministério Público, cuja leniência beira a prevaricação e a covardia frente à um direito constitucional tão concentrado em mãos vacilantes, o controle externo da atividade policial”, completa Wagner.

A dor das famílias e, sobretudo, das mães negras que choram a morte de seus filhos é motivo de luta permanente e de esperança para que o caso ganhe visibilidade. “Esperamos que o grito por justiça ecoado pelas mães dos vitimados e lideranças comunitárias rompam o silêncio e a leniência nesse caso. Que Exu ecoe as vozes de Ana Sueli Conceição Souza, Silvana dos Santos, Luciana Guimarães e Ana Caminha”, finaliza.


Com informações do Alma Preta e G1.