Manifestamos nossa profunda solidariedade ao povo palestino que sofre o desproporcional e continuado terrorismo do Estado de Israel e também ao povo israelense que tem experimentado nos últimos dias a violência dos ataques do Hamas.
É importante lembrar que a guerra deflagrada pelo ataque do Hamas a Israel no ultimo sábado é a ponta de um iceberg de violência extrema vivenciado no território Palestino. Em 2014, sob a pretensa de combater criminosos- tal qual os racistas fazem no Brasil- em um ataque a Gaza, o Estado de Israel vitimou mais de 2000 pessoas palestinas, inclusive mulheres e crianças inocentes, além de destruir hospitais, escolas e itens básicos para a sobrevivência de uma comunidade.
Em julho deste ano, o exército israelenses, considerado um dos mais poderosos do mundo, atacou um campo de refugiados em Jenin (fundado em 1953, o campo de refugiados abrigou quase 18.000 dos 760.000 palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas casas quando o Estado de Israel foi criado em 1948). A mídia branca ocidental não costuma dar destaque, mas segundo a legislação israelense, a maioridade penal é de 12 anos- para crianças palestinas- , que são alocadas em prisões com adultos, muitas vezes sem acusação formal ou julgamento.
Além disso, de acordo com a organização internacional Defense for Children International, nos últimos vinte anos cerca de 2.200 crianças palestinas foram assassinadas em decorrência da ocupação e presença israelense, cinquenta apenas este ano. Tudo isso em um contexto em que a justiça é feita por tribunais militares israelenses, sem nenhum tipo de fiscalização externa. Durante este ataque, representantes do Movimento Negro Unificado e a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, duas organizações que compõem a Coalizão Negra por Direitos, se encontravam em território Israelense e pôde presenciar o terror que é viver sob ameaça e controle do exército, além das mais diversas violações de direitos contra o povo palestino, como falta de acesso a água, despejos ilegais, onde suas terras são desapropriadas para a construção de assentamentos (condomínios) para judeus, em território Palestino, na Cisjordânia, onde também não há direito a livre circulação.
Meses antes, em agosto de 2022, representantes da Casa Sueli Carneiro, que também compõe a Coalizão Negra por Direitos, esteve na Palestina e em Israel quando puderam testemunhar como a extrema direita israelense se beneficia com o enfraquecimento do Movimento de Libertação Nacional da Palestina – Fatah e o fortalecimento de grupos extremistas como o Hamas.
Em março de 2023 o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDHNU) aprovou uma resolução crítica a Israel apontando “grave preocupação com relatos de graves violações dos direitos humanos e graves violações do direito internacional humanitário, incluindo possíveis crimes de guerra e crimes contra a humanidade, no Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental.”
Na realidade existem diversas resoluções da ONU que denunciam a situação do povo palestino e que são ignorados pelo governo de extrema direita israelense, que desde 2009 tem intensificado a política de extermínio apoiando direta e indiretamente as ações de colonos judeus – supremacistas civis- que vem praticando atentados contra palestinos, sem que haja punição ou denúncia pública do caráter racista dessas ações.
Dados das Nações Unidas e organismos internacionais, como a Anistia Internacional(2022) e Human Rights Watch (HRW) em 2021 denunciam que Israel aplica um regime de apartheid contra a população palestina, que vem sofrendo com um verdadeira limpeza étnica através de políticas de morte e expulsão de seus territórios, através da negação de direitos básicos, como acesso à agua.
Tal qual a experiência de Apartheid na África do Sul, existem diversos “chackpoints” para permitir, ou não, a entrada de palestinos em suas próprias cidades. Israel controla e decide quem pode transitar em busca de emprego e alimentação, ou mesmo, permitir visitas a familiares que ficaram do lado oposto dos muros construídos em 2006.
Em maio deste ano, vários movimentos sociais do Brasil apresentaram uma carta de solidariedade à Palestina, solicitando a revisão das relação entre Brasil e Israel para pressionar o fim do Apartheid contra o povo palestino, dentre eles a CUT, MST e Movimento Negro Unificado (MNU).
Tal resolução é referendada pela Anistia Internacional e grupos como o Julho Negro que Além de organicamente negro e feminista, o Julho Negro é um evento de articulação internacional contra a militarização, o racismo e o apartheid no mundo.
Reconhecemos que está se passando com o povo palestino não é uma injustiça distante, separada da nossa realidade e que o regime de apartheid é um crime contra a humanidade baseado no racismo e no colonialismo, que tem como um dos efeitos colaterais o fortalecimento de grupos extremistas como o Hamas. Acreditamos que a luta contra o apartheid palestino orquestrado por Israel, também é a luta do povo negro brasileiro e deve ser assumida por todos aqueles e aquelas que defendem a dignidade humana.