Movimentos negros e quilombolas vão à Europa denunciar racismo ambiental

Após passar pela Escócia, onde participou da 26ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP26), a comitiva negra e quilombola formada pela Coalizão Negra por Direitos, Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), Uneafro Brasil e Movimento de Pescadoras e Pescadores Artesanais do Brasil, viaja para Paris, Madri, Berlim e Munique . A ação tem como objetivo realizar incidências políticas para denunciar o racismo ambiental e suas consequências mais drásticas na vida das populações negra, quilombola e indígena.

Essa é a primeira vez do movimento negro e quilombola em uma experiência nessa proporção. Entre os destaques da agenda estão entrevistas com a imprensa internacional, mobilizações e encontro com autoridades. Nesta segunda-feira, por exemplo, o grupo se reuniu com o vice-prefeito de Paris, Jean-Luc Romero, encarregado dos assuntos internacionais na cidade. Nessa noite, o grupo ainda realiza evento público no Centro Internacional de Cultura Popular, em Paris.

A partir desta terça (09), o grupo se divide e realiza ações simultâneas em diversas cidades. Em Madri, a Coalizão se reuniu com a comunidade negra africana e afrodescendente em Madri. Já em Munique (Alemanha), a Coalizão realiza debate sobre racismo ambiental e desigualdades climáticas com Christian Russau, jornalista e cientista social alemão. 

Na quarta (10), serão realizados encontros com deputados e senadores de distintos partidos políticos no Congresso dos Deputados, em Madri, em parceria com a deputada Maria Dantas, primeira deputada brasileira a ser eleita na Espanha. No mês de outubro, ela conseguiu aprovação de uma moção em solidariedade à luta da população brasileira pela vida, pelo meio ambiente e pela democracia. Em Munique, as atividades consistirão em ações com movimentos sociais. A agenda vai até o dia 12 com outras atividades previstas

Agenda

Paris:

A Coalizão Negra Por Direitos, CONAQ e Uneafro Brasil, através de uma articulação feita pelo pelo CRIDI, realizaram um encontro com o vice-prefeito de Paris, Jean-Luc Romero e com a vereadora Geneviève Garrigos.

Durante a ação foram debatidos temas como a degradação do meio ambiente e das articulações dos movimentos negros para combater o racismo ambiental no campo e nas cidades. Um destaque a questão quilombola e dos povos originários foi reforçado nas discussões da agenda de combate ao aquecimento global, sendo apresentada a carta manifesto pela titulação dos territórios quilombolas pelo desmatamento zero e da demarcação de terras indígenas, pois são as populações que mais sofrem com as mudanças climáticas.

Clique aqui e veja a carta lançada pela Coalizão Negra na COP26

Outro ponto reforçado no encontro foi o das manifestações de repúdio às violências que a população negra sofre diariamente no Brasil, além das denúncias de racismo ambiental e violações de direitos humanos. A prefeitura de Paris tem se manifestado pela defesa da garantia dos direitos humanos no Brasil e até mesmo em repúdio ao assassinato de Marielle Franco.

Madri 

Até essa quarta (10), a Comissão Negra e Quilombola está em Madrid para seguir denunciando o racismo ambiental e suas consequências mais drásticas na vida das populações negra, quilombola e indígena.

No dia 9, o grupo se reuniu com a comunidade negra africana e afrodescendente da capital espanhola. Na quarta, será a vez do encontro com deputados e senadores de vários partidos políticos no Congresso dos Deputados em Madri.  A reunião acontece em apoio ao povo brasileiro e sua luta pela vida, aprovada recentemente no Congresso espanhol encabeçada pela Deputada Maria Dantas. 

A passagem da Comissão Negra e Quilombola por Madri, também dá início oficial às jornadas Re-Existência e luta: um legado de Zumbi dos Palmares, que vai até 21 de novembro na capital da Espanha. 

Tanto as jornadas como a agenda da Comissão Negra e Quilombola pós COP26 em Madri estão sendo organizadas pelo Coletivo Pelos Direitos no Brasil em Madri e pela Associação Brasileira Maloka.

Berlim

A delegação brasileira do Movimento Negro e Quilombola, conta com integrantes da Coalizão Negra Por Direitos, CONAQ e do Movimento de Pescadoras e Pescadores Artesanais do Brasil vai a Berlim, com o intuito de trazer vozes negras para o debate climático global, denunciando o racismo climático bem como o genocídio negro brasileiro. 

O último ano colocou em destaque a emergência climática e a injustiça racial. A preocupação com o estado do meio ambiente nunca foi tão grande no debate brasileiro.O racismo ambiental há muito prejudica os povos indígenas e a população negra no Brasil. São as comunidades negras as que menos contribuem para o colapso climático e, ainda assim, as que acabam sofrendo mais. A isto, soma-se a ameaça contínua e crescente a seus territórios provocadas principalmente pelo avanço do agronegócio sob o governo de Bolsonaro.

No dia 11, às 15 horas (horário de Brasília) ou 19h (horário de Berlim) a comitiva participa de um encontro com membros importantes dos coletivos e organizações do movimento negro diaspórico no Fórum Brasil na capital alemã, conhecido como Ilê Obâ Silekê. A comitiva conta com membros de importantes coletivos e organizações do Movimento Negro brasileiro, sobretudo da Coalizão Negra Por Direitos, da CONAQ e da Uneafro. O objetivo é ampliar, no âmbito internacional, o diálogo sobre a letalidade do racismo ambiental, bem como para divulgar o trabalho que os coletivos integrantes da comitiva têm feito nesse campo, além de buscar possibilidades de alianças internacionais. 

Estarão presentes Uriara Maciel (Comitê Ruas Marielle Franco) Sandra Braga (CONAQ) Cleiton Silva (CONAQ) Douglas Belchior (UNEafro) Katia dos Santos Penha (CONAQ) Hilton Lucas Gonçalves Durão (CONAQ) Eliete Paraguassu (Quilombola e líder comunitária da Ilha da Maré, Salvador) Thais Santos (Quilombaque / UNEafro).

No dia 12 de novembro, a comitiva negra participa de dois eventos. Pela manhã articula o diálogo de advocacy e incidência política com a deputada Deborah Düring, dos Verdes de Berlin. Pela tarde, realizará o evento aberto: Racismo ambiental e injustiça climática: o Brasil e a Europa em foco

O evento contará com a presença de Sandra Braga (CONAQ, Goiás), Cleiton Silva (CONAQ, Bahia), Douglas Belchior (Uneafro, São Paulo), Hilton Lucas Goncalves Durão (CONAQ, Pará ), Kátia dos Santos Penha (CONAQ, Espírito Santo), Eliete Paragassu (Quilombola e líder comunitária, Bahia), Thaís Santos (Quilombaque e Uneafro, São Paulo) a mediação do evento ficará por conta de Uriara Maciel (Comitê Ruas Marielle Franco). O evento terá entrada franca e será em Português com tradução para o Alemão.

Munique

Em 09 de novembro, no Salão do Futuro (Zukunftssalon), em Munique a comitiva negra e quilombola participou do encontro “A injustiça climática e o racismo ambiental – Brasil e Alemanha em foco” que promoveu uma discussão sobre as perspectivas do Sul Global e a responsabilidade do Norte global na degradação do meio ambiente e mudanças climáticas.

Participam do encontro, Eliete Paraguassu, do Movimento de Pescadoras e Pescadores Artesanais da Bahia, e Thais Santos, coordenadora do Núcleo Quilombaque, da Uneafro Brasil, ambas representando a Coalizão Negra por Direitos. Elas relataram suas lutas diárias em conversas com o ativista Christian Russau da Alemanha. A mediação foi feita por Biancka Miranda.