O 20 de novembro é data de luta do povo negro
A Coalizão Negra por Direitos, no dia 13 de maio deste ano, para reivindicar pelo direito à garantia da vida, em meio a pandemia da covid-19, retomou as ruas das cidades brasileiras num gesto de coragem e revolta que ecoou por todos os cantos do país e acumlou forças para que um grandioso processo de mobilizações populares acontecesse durante todo o ano de 2021 e expressasse, não apenas o desespero e a tristeza, como também a indignação diante o estado de coisas que a sociedade brasileira enfrenta.
No próximo dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, data edificada pelo movimento negro brasileiro liderado pelo Grupo Palmares na figura do poeta Oliveira Silveira há 50 anos, estaremos nas ruas em centenas de manifestações para reafirmar que está data é um marco na história do Brasil, exemplo da força da organização política negra nacional, bem como para convocar o conjunto da sociedade brasileira que entende que o sistema de dominação racial deve ser eliminado do país para se somar nas ruas conosco.
Acreditamos em uma Consciência Negra que traz consigo tanto uma leitura do mundo em que vivemos e ao mesmo tempo nos impulsiona a construir o mundo que desejamos. Vivemos ainda submetidos a dinâmica dos interesses dos brancos, por meios torpes e cruéis, sujeitando, sufocando, precarizando as condições de vida das populações não brancas, o que equivale dizer que iniciada no período colonial, está em marcha no Brasil uma processo distribuição desigual dos bens sociais, materiais e simbólicos que não reconhece a fragilidade da vida em corpos não brancos, em especial, corpos negros e quilombolas e, portanto, não produz esforços no sentido de garantir a vida ali investida.
A gestão homicida da pandemia da Covid-19 realizada pelo governo Bolsonaro, foi apenas mais um exemplo de como o Estado brasileiro se constrói por meio de políticas de morte, que naturalizam aquilo que alguns chamam de omissão, mas que nós denominamos promoção de crimes contra a vida. Com a pandemia da Covid-19, o processo de deslegitimação da vida da população negra e quilombola se intensificou. A população negra foi o grupo populacional mais atingido pelo vírus Sar-cov-2 e, estrategicamente, reafirmando a manutenção do poder branco estatal, houve a relutância do Estado em reconhecer a necessidade em rever o Plano Nacional de Vacinação, levando em conta a necessidade de priorizar os grupos quilombolas e indígenas no atendimento à vacinação, bem como considerar as variáveis de território, acesso aos serviços de saúde e raça/cor para distribuição das vacinas.
Ademais, não houve política de incentivo ao uso de EPIs nas periferias e para as mais de 680 mil pessoas encarceradas no país. Esses foram impedidos de receber visitas, o principal meio de fiscalização dos direitos mínimos de pessoas nessas condições. Hoje temos mais de 600 mil pessoas mortas vitimadas por uma gestão homicida e corrupta da Covid-19 e supremacista branca, o que se comprova com os documentos apresentados pelo professor Halal e o seu depoimento na CPI da Covid-19 e dossiê entregue ao relator da comissão pela Coalizão Negra Por Direitos.
O genocídio negro segue, caracterizado nas mais de 19 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar; mais de 14 milhões de pessoas desempregadas (majoritariamente mulheres e jovens negros); na ameaça constantes aos territórios e religiosidades da matriz africana (racismo religioso); no desmonte do ENEM; na ameaça às cotas raciais; na não titulação dos territórios quilombolas; no desmonte das políticas de fiscalização do desmatamento ambiental e no avanço dos interesses do agronegócio; na falta de compromisso com políticas de saneamento básico nos territórios negros, periferizados e favelizados é muito mais.
As instituições sequer se abalaram diante as mortes de Beto Freitas, Marielle Franco, Miguel Otávio, João Pedro, Amarildo, Khathlen Romeu, Claudia Ferreira, Gibinha, Nenê, Luana Barbosa e tanto outros nossos malungos que se converteram em ancestrais antes do tempo em virtude da violência de Estado.
Por todas as nossas vidas convertidas em ancestrais antes do Tempo, pela dignidade da vida do povo negro e quilombola, inclusive no momento de sua morte, neste 20 de novembro a Coalizão Negra Por Direitos, vai às ruas para dizer: Não há mediação com quem nos mata. Pela vida do povo negro e quilombola!