Sem previsão para restabelecer o acesso à energia elétrica por parte do Estado do Amapá, CONAQ-AP teme que quilombolas sejam os últimos a serem atendidos

Por:  Maryellen Crisóstomo / CONAQ

“Maryellen vou falar com você daqui a pouco, porque eu estou no trânsito. A gente está correndo atrás de água de beber para mandar para um quilombo que está sem nada de água. Você me dá meia hora?”

Essa foi a resposta imediata que recebi da Coordenadora Nacional da Conaq, Núbia Cristina, pelo Estado do Amapá, quando pedi a ela relatos sobre a situação dos quilombolas em meio ao apagão que já dura sete dias. Os impactos da falta de energia que assola a maioria dos municípios amapaenses têm efeitos mais devastadores nos territórios quilombolas. 

Segundo Cristina, os quilombos estão ainda mais isolados e o contato acontece somente quando ela e a articulação da CONAQ-AP se deslocam até os territórios. “Se já está ruim na cidade, pior está na comunidade. Tem gente passando fome, tem gente que está doente, tem gente que não consegue tomar água (potável) são várias situações adversas” relata a coordenadora.

“Eu estou falando porque estou usando a estratégia de me deslocar para os pontos que tem energia na cidade (para usar a internet), tenho o calendário aqui, então quando não estou na comunidade eu estou aqui na cidade buscando os pontos para falar e pedir ajuda”, pondera Núbia. 

A demora por parte do Estado do Amapá em mitigar as consequências do apagão decorrente de um incêndio na subestação de energia, ocorrido ainda na última terça-feira, 03/11, tem levado a população ao caos.  “Eles estão muito preocupados com as 800 mil pessoas que moram na cidade, mas no restante do interior eu ainda não vi nenhuma ação chegar por parte do Estado”, aponta Núbia.

A coordenadora expressa preocupação ainda com relação ao custo dos produtos de consumo básico. “A gente precisa urgentemente normalizar a questão da sobrevivência: alimentação e água. As coisas ficaram caríssimas, ninguém se trabalha mais com o preço real das coisas: aumentou demais. Há uma ação mercenária no padrão da sobrevivência. Se na cidade está alto, imagina nos locais mais próximos das comunidades… até levar comida para dentro da comunidade está mais complicado”, ressalta.

A Coordenação das Comunidades Quilombolas do Amapá (CONAQ-AP) emitiu uma nota de repúdio sobre o descaso do Estado Governo do Amapá para com a situação dos territórios quilombolas que sofreram um agravamento pelo apagão em meio a crise da pandemia da COVID-19.

COORDENAÇÃO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO AMAPÁ – CONAQ-AP, vem a público repudiar a forma como, há anos, políticos criaram, e amplamente publicaram, uma Fake News sobre termos 3 (três) usinas em um mesmo Rio. Na verdade, tais ditos empreendimentos, destruíram várias Comunidades Negras Tradicionais e Quilombolas, com seus territórios seculares, e, sobretudo, o Rio Araguari e a sua riquíssima bacia. Esse rio, que alimentava e dava vida aos Quilombos. Mesmo assim, interligam,  ao tal Sistema Nacional, a energia produzida com os nossos recursos naturais.

E o que realmente ficou para nós não nos gera nada. O QUE TEMOS SÃO CONTAS!! Nada DEIXAM com os amapaenses, até os empregados, a maioria veio de fora. E ainda SOMOS MAL ATENDIDOS.

Hoje, estamos no escuro, seja lá o que for. Isto só confirma a total falta de compromisso do Operador Nacional do Sistema, com o povo do Amapá, pois não há nenhuma medida compensatória e ou alternativa que vá ao encontro das pessoas quilombolas. Após mais de 60 horas, nossa população das Comunidades não têm água e nos falta comida, pois o que tínhamos perdemos tudo. Nossa produção se foi.

Caso fossem consumidores de uma região como a sudeste, certamente, o problema já estaria resolvido. Para eles (gestores), o nosso povo representa nada ou, menos que nada.

E, pior, estamos invisíveis diante ao CAOS QUE VIVEMOS, POR FAVOR NOS AJUDEM, POIS, NA FILA DAS PRIORIDADES, O NOSSO POVO SERÁ O ÚLTIMO A SER SOCORRIDO.