Não nos confunda: o voto antirracista é o voto no movimento negro

Quilombo nos Parlamentos quer eleger pelo voto bancadas negras comprometidas com as lutas sociais. 120 diferentes pré-candidaturas por diferentes partidos são lançadas por todo o país.

Cerca de 5 mil pessoas acompanharam, online e presencialmente, o lançamento do Quilombo nos Parlamentos, na última segunda-feira (6), dia de Exu, na Ocupação 9 de Julho, na cidade de São Paulo. Desde 2020, a Coalizão Negra Por Direitos, que é composta por 250 iniciativas, vem desenvolvendo diferentes estratégias para fortalecer lideranças do movimento negro e aumentar a participação negra nas casas legislativas. As agora pré-candidaturas receberam formações diversas, apoio na busca de financiamento e no aumento das relações com outros atores.

Ao longo do encontro, algumas pré-candidaturas apoiadas pela iniciativa da Coalizão tiveram a oportunidade de subir ao palco e fazer uma breve declaração. Abolicionismo penal, a luta feminista, planos econômicos antirracistas, educação e meio ambiente estiveram entre as pautas trazidas por eles, além da necessidade de impedir o avanço do fascismo e do genocídio da população negra e periférica. 

Ao todo, 120 lideranças negras comprometidas com a agenda da Coalizão Negra Por Direitos serão apoiadas em Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina,  São Paulo, Sergipe, Tocantins e no Distrito Federal.

Além dos pré-canditates, o evento contou com a presença de intelectuais e militantes históricos do movimento negro e foi classificado como uma articulação pioneira pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez uma participação online e ao vivo no evento. A presença de Lula estava confirmada, mas, na noite anterior, o também pré-candidato foi diagnosticado com covid. Lula enfatizou que nunca tinha visto ao longo de sua trajetória uma iniciativa como a do Quilombo nos Parlamentos, que reúne pessoas negras de diversos partidos políticos. Há pré-candidaturas filiadas ao PT, PSOL, PSB, PCdoB, Rede, PDT, UP e PV.

Tal prestígio a iniciativas do movimento negro por um ex-presidente e postulante melhor classificado nas pesquisas de intencão de voto foi apontado como inédito pela filósofa Sueli Carneiro, fundadora do Geledés, em sua fala durante o evento. Iniciativas políticas que têm uma longa trajetória, como lembrou Mônica Oliveira, da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e da Coalizão. “O que estamos fazendo hoje é continuidade de um processo longo, histórico, político do movimento negro desse país. Tivemos diferentes ativistas que se candidataram, pertenceram e criaram partidos que, hoje, fazem 30, 40 anos de história”, afirmou Mônica. E enfatizou que esse movimento político está situado no campo da esquerda. “Sempre pertencemos a esse campo chamado esquerda, construímos essa esquerda e, como disse Sueli Carneiro, somos nós que empurramos a esquerda para a esquerda”, concluiu.

Não nos confunda

Douglas Belchior, fundador da Coalizão e pré-candidato a deputado federal pelo PT/SP lembrou que é preciso ter compromisso real com a pauta antirracista. Nos últimos anos, a sub-representação de pessoas negras nas casas legislativas e no executivo vem diminuindo, mas isso ainda não basta, na avaliação do professor de história e fundador da Uneafro.  

“O voto antirracista é o voto no movimento negro. Nós não estamos aqui para eleger pessoas negras e só. Estamos aqui para eleger lideranças do movimento negro. Aqueles que levam na sua elaboração política essa tradição de luta. Nós não estamos com qualquer um. Nós estamos com aqueles que abriram a estrada, que nos trouxeram até aqui. É esse voto que nós iremos buscar e são essas pessoas que nós vamos eleger. Não nos confunda”, disse diante de pessoas-chave na história recente do país, como Milton Barbosa, o fundador do MNU, Nilma Bentes, fundadora do Cedenpa, José Carlos Galiza, da Conaq, e o pesquisador Hélio Santos, entre outros. “[A Eleição] é um bom teste para as organizações da sociedade civil, para os partidos políticos, especialmente da esquerda, para as fundações, para todas as organizações da sociedade que têm gritado que são antirracistas. Pois, então, mostrem”.